Vê o caso dos contos. Como nasce uma narrativa breve, curta? (Penso nos contos porque embriões de [quase] todas as formas literárias [como diziam os antigos: o romance é lá um conto cujo final fora constantemente adiado pelo autor].) Então, repito, como nasce um conto? Estás a caminhar num país estrangeiro e escutas qualquer coisa exótica. De aí vêm cenas inusitadas à tua cabeça; trechos, recortes. Se colocas esses fragmentos numa folha de papel terás quem sabe uma promissora antologia de contos. Obviamente, quererás adicionar um ou outro adereço com viés fantasioso — o «gostava que tivesse sido assim». És também um arquiteto quando escreves o conto, percebes? Os parágrafos são as paredes da tua morada. Ainda dentro da analogia arquitetônica: o teu estilo tornar-se-á o paisagismo, a decoração interior. Há casas mais bonitas, outras mais feias. O leitor olha e reconhece. Isto é certinho.
— P. R. Cunha
Bom dia arquiengenhoso 👏👏👏👏👏👏
Para ti também, LPD.
Forte abraço!
E mesmo as mais feias são parte d’um estilo que te torna você mesmo e traz tipos de leitores diferentes. Escrita é coisa linda demais!
Sim, Marcell — o conceito de belo é a subjetividade circunstancial do observador (estou a citar o Jean Serroy).
Abraços e bom fim-de-semana!,
P.
Bom fim de semana para todos nós
Creio que quando falamos de livros, ou os escrevemos, estamos falando da vida… uma vida mais “certinha”… ou não.
De certeza que estamos a tirar cenas do quotidiano (nosso ou de outrem) quando misturamos personagens à cabeça. E criamos padrões, linearidade. Tenta-se eliminar os supérfluos — ou escreve-se um Infinite Jest, ou um Ulysses, ou O homem sem qualidades com os supérfluos e tudo.
De toda a forma, são ações humanas que ocorrem num determinado período de tempo — livros; vida.
Desejo-lhe um ótimo fim-de-semana!,
P.
E o engenheiro é editor? Ou não?
É que um arquiteto precisa de um engenheiro para concretizar a sua obra.
Miau,
Sim, o editor seria o engenheiro: acréscimo excelente.
Mas não podemos nos esquecer que há também engenheiros distraídos — desastrados — que por vezes não percebem nada de bulldozer e destroem, geram grande algazarra à obra.
&tc.
Ah..vou puxar a farinha p o meu lado. Rsrs Os arquitetos tb! Criam cada “maluquice” !(vanguardices, existe essa palavra?). E os engenheiros que se virem p executar. Rsrsrs E tb os serralheiros com esforço acrescentado, e os pedreiros e mestre de obras, e os canalizadores,…. Quem menos deve sofrer são os eletricistas com seus elementos flexíveis. Rsrsrs
Hahahaha!
Ganhei meu dia.
Adoro essas intrigas à moda construção civil. Brasília é um ótimo sítio para tal desporto. Cada prédio «vanguardista» que o estômago embrulha — apetece ir à casa de banho mais próxima. E pode-se colocar o escritor com qualquer fantasia neste samba torto. Eis a beleza do enredo.
Abraços elétricos,
P.
O conto seria então uma casa pequena se comparado a um romance? Talvez, mas nem por isso mais fácil de ser construída….
Bia,
Creio que cada projeto requer determinados estilos/tipos de abordagem — que materiais utilizar, quanto espaço interno, quantos metros às traseiras, que partes voltadas ao poente, que partes ao nascente, piscina, churrasqueira etc.
São desafios destintos (conto, cabana; romance, mansão), mas que precisam do devido esforço para se transformarem em edificações habitáveis.
John Cheever costumava dizer que criar um conto não é tarefa difícil. O verdadeiro desafio, no entanto, é escrever um conto bom, atraente, estimulante, que manterá o leitor — sempre com coisas mais importantes a fazer (a concorrência [vide entretenimentos diversos] hoje em dia mostra-se ainda pior) — até ao ponto final.
Muitos abraços para si,
P.
Bela descrição 😊😘
Obrigado, Prosa.
Sê bem-vinda!,
P.
“o romance é lá um conto cujo final fora constantemente adiado pelo autor”. Essa vai me arrancar o sono ou devolvê-lo a toda.
Vilém,
Essa pequena oração citada por si é microcosmos da vida, cujo final também procuramos adiar; com muito custo.
E espero, sinceramente, que não faça inimizades com o sono.
Toda a gente precisa de descansar um bocadinho.
Abraços,
P.